domingo, 18 de março de 2012

Agenda de Março

A Alma da minha avó, como ela lhe chamava, sempre me fascinou. Foi por isso que, assim que regressámos do seu funeral corri para o quarto à sua procura. Não fosse algum dos outros vinte e sete sobrinhos netos ter a mesma ideia.
Às vezes a minha tia avó sentava-se na cama e acariciava os ângulos da sua alma retangular.
Encontrei-a, no alto do armário, lisa como a esperava, por baixo do pó acumulado. Sentei-me, agora eu, na cama e, pela primeira vez, toquei nas fotografias que até ali só tinha visto de longe. Divididas por épocas, não tinham cenas proibidas ou segredos escondidos, apenas o meu tio avô, que eu mal conhecera, retratado ao longo de cinco décadas.

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