Era Maio de 1893, uma sala escura. Leonor lia o livro de Dennis Diderot Jóias Indiscretas. O seu rosto alterava-se com espantos, sorrisos e abanava-se com rápidos movimentos. Fixava com nervosismo a maçaneta da porta.
LEONOR
Se entrasse por aqui o senhor meu pai, ai!
(O livro é folheado depressa, a ação do livro é empolgante. Leonor lê em voz alta.)
“Quer dizer que o senhor gostaria que eu fosse um pouco burra?” Ao que ele responde: “Por que não? Isso nos aproximaria, e, portanto, nos divertiríamos muito mais. É preciso uma imensa paixão para suportar uma humilhação atrás da outra.” Se a minha madrinha soubesse ou sonhasse que leio um romance proibido, desmaiava ou morria de desgosto.
“As mulheres andam vestidas lá?”, pergunta Mirzoza. Responde Mangogul: “Certamente. Mas não é por obediência, é por sedução – elas se cobrem para atiçar o desejo e a curiosidade...” então, este relato levaria ao seu último suspiro.
(De repente, ouvem-se passos, a maçaneta da porta move-se, atrapalhada, Leonor coloca o livro entre o xaile que prende à cintura e o seu ventre toma forma. Entra a mãe, uma mulher austera e a criada fiel cordeirinha e muito metediça).
CRIADA
Menina! Aqui sozinha? A sala está muito escura!
(Abre as cortinas com rapidez, o espaço ilumina-se.)
MÃE
Leonor, o que faz aqui na sala tão escura?
CRIADA
Sente-se mal menina? Parece que não está bem! O que é isso?
(Aponta de forma descarada para a barriga de Leonor. A mãe apercebe-se do pânico que Leonor sente, olha-a de modo fixo e com ar de espanto.)
MÃE
Está de esperanças? Que vergonha, como foi isso acontecer?… Estou a sentir-me muito mal!…
(Cai desmaiada. A criada socorre-a, enquanto de revês olha para Leonor.
Leonor paralisa imóvel. A azáfama do momento, os sons de desespero da criada chamam a atenção do pai, que entra na sala, vê a mulher caída e a criada aflita).
PAI
O que se passa aqui?
(Olha o rosto da filha.)
LEONOR
Senhor meu pai, eu explico…
(Os nervos do momento fazem com que o livro caía no chão. A criada grita.)
CRIADA
Deu à luz um livro!… Acorde minha senhora! Acorde! Não passa de um mal-entendido!...
(Esbofeteia várias vezes o rosto da senhora. O pai apanha o livro do chão, lê e passados alguns segundos olha a filha, uma forte dor no peito fá-lo cair. A criada grita.)
ah…ah…ah…ah…ah…ah…ah…ai…ai...ai…que desgraça, olhe o que fez!
(A mãe acorda nesse momento aturdida, quando vê o marido caído no chão, jazido, começa a uivar de dor).
MÃE
Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!
(Os gritos acabam com um desmaio. Leonor chora agarrada à sua própria cara).
CRIADA
Que desgraça se abateu nesta casa, a menina não pode ser merecedora de felicidade. Este livro tem artes maléficas!!!
(Benze-se e joga-se ao livro para despedaçá-lo. Leonor evita tal ação. Durante algum tempo a criada disputa até o arrancar das mãos de Leonor e guarda-o no avental. A mãe acorda e, ao ver o marido, não consegue parar de chorar).
MÃE
Isto é muito grave… Sim, isto é muito grave! Viúva fiquei meu amor que partiste sem despedir-me de ti!
(Ajoelhada ao pé do marido faz-lhe festas na cabeça, volta a olhar para a filha, desta vez com ódio e grita de seguida.)
Espera-te a clausura do convento!
FIM
LEONOR
Se entrasse por aqui o senhor meu pai, ai!
(O livro é folheado depressa, a ação do livro é empolgante. Leonor lê em voz alta.)
“Quer dizer que o senhor gostaria que eu fosse um pouco burra?” Ao que ele responde: “Por que não? Isso nos aproximaria, e, portanto, nos divertiríamos muito mais. É preciso uma imensa paixão para suportar uma humilhação atrás da outra.” Se a minha madrinha soubesse ou sonhasse que leio um romance proibido, desmaiava ou morria de desgosto.
“As mulheres andam vestidas lá?”, pergunta Mirzoza. Responde Mangogul: “Certamente. Mas não é por obediência, é por sedução – elas se cobrem para atiçar o desejo e a curiosidade...” então, este relato levaria ao seu último suspiro.
(De repente, ouvem-se passos, a maçaneta da porta move-se, atrapalhada, Leonor coloca o livro entre o xaile que prende à cintura e o seu ventre toma forma. Entra a mãe, uma mulher austera e a criada fiel cordeirinha e muito metediça).
CRIADA
Menina! Aqui sozinha? A sala está muito escura!
(Abre as cortinas com rapidez, o espaço ilumina-se.)
MÃE
Leonor, o que faz aqui na sala tão escura?
CRIADA
Sente-se mal menina? Parece que não está bem! O que é isso?
(Aponta de forma descarada para a barriga de Leonor. A mãe apercebe-se do pânico que Leonor sente, olha-a de modo fixo e com ar de espanto.)
MÃE
Está de esperanças? Que vergonha, como foi isso acontecer?… Estou a sentir-me muito mal!…
(Cai desmaiada. A criada socorre-a, enquanto de revês olha para Leonor.
Leonor paralisa imóvel. A azáfama do momento, os sons de desespero da criada chamam a atenção do pai, que entra na sala, vê a mulher caída e a criada aflita).
PAI
O que se passa aqui?
(Olha o rosto da filha.)
LEONOR
Senhor meu pai, eu explico…
(Os nervos do momento fazem com que o livro caía no chão. A criada grita.)
CRIADA
Deu à luz um livro!… Acorde minha senhora! Acorde! Não passa de um mal-entendido!...
(Esbofeteia várias vezes o rosto da senhora. O pai apanha o livro do chão, lê e passados alguns segundos olha a filha, uma forte dor no peito fá-lo cair. A criada grita.)
ah…ah…ah…ah…ah…ah…ah…ai…ai...ai…que desgraça, olhe o que fez!
(A mãe acorda nesse momento aturdida, quando vê o marido caído no chão, jazido, começa a uivar de dor).
MÃE
Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!
(Os gritos acabam com um desmaio. Leonor chora agarrada à sua própria cara).
CRIADA
Que desgraça se abateu nesta casa, a menina não pode ser merecedora de felicidade. Este livro tem artes maléficas!!!
(Benze-se e joga-se ao livro para despedaçá-lo. Leonor evita tal ação. Durante algum tempo a criada disputa até o arrancar das mãos de Leonor e guarda-o no avental. A mãe acorda e, ao ver o marido, não consegue parar de chorar).
MÃE
Isto é muito grave… Sim, isto é muito grave! Viúva fiquei meu amor que partiste sem despedir-me de ti!
(Ajoelhada ao pé do marido faz-lhe festas na cabeça, volta a olhar para a filha, desta vez com ódio e grita de seguida.)
Espera-te a clausura do convento!
FIM
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