sábado, 24 de março de 2012

O meu gato


Desconfio que o meu gato não é um gato verdadeiro. Tem quatro patas, bigodes que picam e rabo comprido como os gatos, mas não parece um gato.

Quando a vizinha Ana o trouxe, dentro de uma caixa de sapatos, vi logo que não era um gato como os outros.

Primeiro pensei que era o gato de uma bruxa e vinha para me obrigar a comer feijão verde, mas o meu gato não podia estar menos interessado naquilo que eu como. Além disso, foi a vizinha Ana que o trouxe e ela é simpática e tem sempre os bolsos cheios de rebuçados coloridos para partilhar.

Mas tenho a certeza de que ele não é um gato a sério. Tem um bacio azul e senta-se nele para fazer xixi e, quando a mamã não está a ver, fala comigo. Juro que fala! Mas não sei o que me diz porque não conheço a língua.

Talvez seja um extraterrestre disfarçado. Isso explicaria porque tem um olho de cada cor e mia às estrelas. Para provar a minha teoria tentei espreitar dentro da boca mas ele mostrou-me os dentes grandes e afiados e fugiu. É muito suspeito!

Também pode ser um espião estrangeiro, talvez da guerra fria de que fala o avô. Afinal esconde-se de nós quando passamos por ele e gosta de espreitar pelas janelas do vizinho.

O meu gato até podia ser um amigo mas dorme todo o dia, sai à noite pela janela e não entendo nada do que ele diz. Excepto daquela vez em que eu sonhei que um comboio de braços gigantes me levava para dentro da noite e o meu gato veio deitar-se junto a mim e miou baixinho “Gosto de ti”.

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